Memorial
Mozart Almeida
Memorial
Mozart Almeida
A Cultura Que Marcou Uma Geração
Origem
No início da década de 1950, precisamente no dia 28 de dezembro de 1951, pelas mãos da parteira “Zefa Bito”, nasce Mozart Almeida, filho do fazendeiro e comerciante Leopoldino Almeira e de Maria Cunha de Almeida. A família que morava na localidade de Olaria (hoje pertencente a Desterro-PB, e que na época era pertencente à cidade de Teixeira-PB), recebia naquele dia, o seu 13º filho. Mozart juntou-se aos irmãos que ali já estavam: Pepita, Adilina, Irize, Herotildes, Izolina, Ivo, Selino, Ondina, Agamenon, Jorge, Ismar e Nazareth. Depois de Mozart, ainda nasceu Leopoldino Filho (Neném), para completar a família.
Mozart perdeu o seu pai antes mesmo de completar 3 anos. O duro baque atingiu aquela família no ano de 1954, mas Maria, com pulso firme, conduziu tudo da melhor forma possível.
Sua infância foi na Olaria. Por ser um dos mais novos, costumava ficar em casa com sua mãe, mas teve que iniciar o trabalho muito cedo junto aos seus irmãos para executar as tarefas da família. Dentre tantas obrigações que tinha, era comum vê-lo em uma roça de milho, feijão ou até mesmo de mandioca. Nos períodos de estiagem, participava das quebras de milho, apanhas de feijão e fava, vazantes de batatas e colheita de mandioca entre outubro e dezembro. Também costumava pastorar animais. Aos 9 anos, foi para o motor de agave de Luiz Gonzaga Nunes de Almeida e tornou-se um grande cortador de agave. Depois de um tempo, foi para o motor de João Leite de Almeida, na Carnaubinha, e passou a andar aproximadamente três quilômetros a pé, em uma mata deserta, para chegar ao seu novo local de trabalho.
Estudou em um grupo escolar do município, que ficava em frente à sua casa. Desde cedo, Mozart desenvolveu o hábito de ler e escrever, incentivado pelos livros deixados pelo pai. Começava ali uma brilhante história de comprometimento cultural e intelectual, que ficara na memória de uma geração.
Carreira
Ainda muito jovem, aos 14 anos, foi para Desterro-PB, onde foi convidado a ensinar um grupo de crianças, mas só iniciou como professor de matemática aos 20 anos. Nesse meio tempo, estudou na cidade de Patos-PB, no Colégio Estadual Pedro Aleixo, que atualmente se chama: Escola Estadual Monsenhor Manuel Vieira, e depois voltou para Desterro, onde deu continuidade à sua trajetória.
O registro mais antigo de folha de pagamento de Mozart, junto ao município de Desterro-PB, foi datado em 1 de abril de 1973.
Graduado em pedagogia pela UEPB (Universidade Estadual da Paraíba), matemática e física pela UVA (Universidade Estadual Vale de Acaraú), teve passagens relevantes em várias escolas da região. Dentre elas: Escola Municipal do Sítio Gancho (Desterro-PB), Escola Municipal João Apolinário (Sítio Olaria – Desterro-PB), Escola Municipal do Sítio Catolé (Desterro-PB), E.M.E.F. Vereador Manoel de Almeida (Distrito de São Sebastião – Cacimbas-PB), Escola Estadual de Ensino Fundamental e Médio Gertrudes Leite (1986/2009 – Desterro-PB), E.M.E.F. Cassimira Leite Montenegro (1999/2009 – Desterro-PB).
Vale destacar que, além de professor, Mozart foi coordenador pedagógico da E.M.E.F. Cassimira Leite Montenegro, assim como foi secretário de educação e cultura do município de Desterro na década de 1990.
Por onde passou, sempre foi muito respeitado, tanto pela pessoa quanto pelo profissional que era. Como Secretário de Educação e Cultura, destacou-se por sua honestidade e comprometimento com a qualidade do ensino no município. Outro fato que marcou sua passagem pela secretaria, foi o estabelecimento do pagamento de pelo menos um salário-mínimo a todos os servidores daquela época.
Homenagens
Em 2017, foi doado parte do seu acervo pessoal, para o projeto Professor Leitor na E.M.E.F. Cassimira Leite Montenegro. Lá encontram-se várias peças, como livros, vinis, pôsteres, etc.
A Escola Estadual de Ensino Fundamental e Médio Gertrudes Leite, fundou em 2019 a Biblioteca Escolar Mozart Almeida.
Seu nome também foi dado a um campeonato de futebol na cidade de Desterro: a Copa Mozart Almeida.
Rádio Entre Rios
A rádio Entre Rios FM, que antes se chamava Mix FM, contou com participação relevante de Mozart. Ele foi presidente dela por um período, tesoureiro, redigia as atas, também fazia a grade de programação, e como locutor esteve à frente de vários programas. Foram eles: Manchete da semana, Canta Brasil, Especial Entre Rios, A caminho da escola, O povo precisa saber, Entre Rios no esporte. Destaque para o programa O povo precisa saber, de enorme audiência, que passava aos domingos das 11:00h às 13:00h. Todos da região paravam para escutá-lo.
Leitura
Foi o único entre os irmãos que se dedicou aos estudos. Sua relação com os livros começou muito cedo, pois os livros do seu pai lhe serviram de impulso. Era um leitor nato, e era muito comum vê-lo andando pelas ruas com um livro embaixo do braço. Das poucas pessoas, senão a única a ter assinaturas de jornais e revistas na época, em sua cidade, era procurado com frequência para tirar dúvidas sobre acontecimentos de todo o mundo.
As revistas de destaque em sua coleção eram: Veja, e em especial, Conan, o bárbaro (coleção completa).
Além de bom leitor, também gostava de escrever. Nunca foi adepto a computadores, então fazia questão de escrever tudo à mão. Um de seus escritos foi o resumo da história de Desterro-PB.
Manuscritos Sobre a História de Desterro-PB
Por Mozart Almeida
Em sua relação com os livros, um fato marcou sua história. Por anos levava consigo, todos os dias, o mesmo livro para a escola, e após a sua partida, foi encontrada dentro desse livro uma emocionante mensagem de despedida.
Vida Social & Personalidade
Mesmo após a partida de sua mãe para João Pessoa, nos anos 90, continuou morando na casa onde nasceu (sítio Olaria) e só depois de alguns anos se mudou para Desterro.
Apesar de ter muitos amigos, Mozart não buscava os holofotes, participava da organização de vários eventos, cumpria sua jornada, e após deixar tudo pronto, costumava sair sem que ninguém percebesse. Segundo relatos, fazia a mesma coisa nas reuniões de amigos: dizia que ia ao banheiro, pagava a conta e partia. Apesar de sua popularidade, era uma pessoa discreta.
Sempre foi muito carinhoso com todos, costumava falar baixo, não gostava de coisas erradas, e algumas vezes chegava a ser “explosivo” em determinadas situações que ferissem os seus princípios. Era um homem de muitos amigos, querido por todos. Gesticulava bastante ao falar, e era muito expressivo e caridoso. Sempre ajudava o próximo à sua maneira. Pagava inscrições de vestibulares para os alunos, doava uniformes e bolas para times de futebol, etc. Ajudava no que precisasse da maneira que podia. Um verdadeiro exemplo.
Vale ressaltar, também, que era um excelente conselheiro, devido ao seu elevado conhecimento em diversas áreas.
Religiosidade
Não declarou enquanto vivo, seguir uma religião específica, mas sempre participava de diversos cultos e missas, fazendo-se presente em vários ambientes religiosos. Era um estudioso em todas as áreas de sua vida, e com a religiosidade não foi diferente.
Gosto Musical
Mozart era um romântico, e seu gosto musical era amplo, porém ganhavam destaque as músicas populares (MPB), Roberto Carlos, em especial, tendo toda sua coleção em vinil, fita, CD e DVD. Também gostava de Legião Urbana, Amado Batista, Fagner, Fábio Júnior, Raul Seixas, entre outros.
Não comprava discos piratas, todos os seus discos e fitas eram originais, e como não gostava de som com volume elevado, costumava fazer suas leituras ouvindo músicas e bebendo uma taça de vinho.
Preferências
Cores
- Branco
- Azul
- Vermelho
Gosto Culinário
- Pamonha
- Canjica
- Arroz de Leite
- Arroz Mexido
- Galinha de Capoeira
- Batata Doce
- Café Preto
- Bolo de Chocolate
- Bolo de Leite
- Rapadura
Despedida
No início de 2009, foi diagnosticado com câncer nos rins, e ali iniciava-se uma batalha em busca da cura. Foi internado em Campina Grande-PB, e em seguida transferido para a Capital, João Pessoa, onde foi internado no Hospital Napoleão Laureano. Apesar de todo esforço, não foi possível reverter seu quadro clínico, pois já estava bastante complicado. Mozart faleceu no dia 26 de agosto do mesmo ano.
Mozart deixou saudades. Era uma pessoa calma, alegre, que gostava de aproveitar a vida. Conhecido e admirado por todos de sua geração, deixou um grande legado na educação de Desterro-PB e região.
Depoimentos
“Era uma alegria muito grande quando nos encontrávamos, ele era uma pessoa doce, não só um irmão, um amigo também. Queria bem a todos os seus irmãos, independente de qualquer motivo. Queria muito bem a ele.”
Jorge Almeida (Irmão)
“Ele era uma pessoa muito alegre, doce, tranquilo e calmo. Falava com uma tranquilidade, com uma paciência e educação que dava prazer ficar o dia todo escutando ele conversar, muito educado mesmo. Uma doçura de pessoa.”
Maria do Carmo (Cunhada)
“Muitas saudades, era muito bom pra mim, muito carinhoso e unido, precisavam ver o conselheiro que ele era, deixou uma enorme falta!“
Nazareth Almeida (Irmã)
“Tio Mozart pra mim hoje é sinônimo de saudades: do abraço apertado e aconchegante, do carinho e da alegria que só ele tinha. É ter o orgulho de ver os olhos das pessoas brilhando ao falar dele, de imitarem seu jeito e de lembrar que: ‘um bom livro tem que ser lido e relido quantas vezes for necessário’. É saber que pra mim ele não se foi, apenas estamos em tempos diferentes pra nos ver…”
Juliana Almeida (Sobrinha)
“Era uma pessoa boa, honesta, direita, não gostava do que era dos outros, muito cauteloso. Uma pessoa amiga, fiel, é tanta coisa que não tem nem como descrever tudo. Conheci ele há muito anos e posso dizer que foi um ótimo profissional e uma ótima pessoa.”
Alaíde Angelo (Amiga)
“Sou ex-aluno do professor Mozart que prestou um brilhante serviço na área da educação do município de Desterro, e meu tempo de maior aproximação com ele foi na época que ingressamos na rádio local, Entre Rios FM, nós participávamos do programa Entre Rios no Esporte, inclusive Mozart foi a pessoa que me deu a oportunidade de trabalhar na rádio, nada mais do que justo falar desse cara que significou bastante no nosso ingresso na comunicação municipal, respeitado, não só no campo da educação como também no campo da comunicação.”
Jarderson da Silva (Amigo e ex-aluno)
“Um ótimo vizinho, humilde e prestativo, nunca soube dizer ‘não’, sempre que procurasse ou precisasse dele, ele estaria a disposição, foi muito difícil para todos na rua a sua partida, era uma pessoa excelente, muito boa mesmo”
Rosângela Gomes (vizinha)
“Falar do professor, da pessoa Mozart Almeida, é falar do exemplo de ser humano, de pessoa, de um profissional, que com seu jeito objetivo, com seus bordões, com sua maneira simples nos ensinava matemática de uma forma bem objetiva e simples. Com seus bordões dizia ‘isso não tem o que fazer’, ‘isso aqui é mamão com açúcar’, quando o aluno demorava a fazer as atividades, a responder às atividades, ‘bora boião, bora boião, isso aqui é moleza, bora fazer’ e dessa forma nos cativava, de uma forma simples, havia uma troca de respeito e carinho, como ser humano nos transparecia segurança, respeito e acima de tudo acreditava que a educação era o caminho para a ressocialização do indivíduo, para mudar a realidade da nossa sociedade e do mundo. Nos ensinou também que além de ser um professor, era nosso amigo, um companheiro e nas horas vagas nos ensinava com sua grande sabedoria o que tanto aprendeu através dos livros. Assíduo na leitura, tinha o hábito de sempre andar com um livro embaixo do braço, ouvir uma boa música, transparência na sua serenidade, nas suas palavras, suas experiências de vida, e nos aconselhava muito. Um professor que serviu e serve como pilar para muitos outros profissionais na área da educação, marcou a história dos seus colegas, dos seus alunos e das pessoas que com ele conviviam. Era uma biblioteca ambulante, não sabia ou talvez soubesse que iria tão rápido e por isso deixou tantos ensinamentos para todos nós. Tenho orgulho de ter feito parte da sua história como professor, de ter tido o privilégio de ter aprendido com ele a matemática. Hoje também sou professora e me espelhei no seu profissionalismo, na sua forma simples de lecionar, de passar conhecimento com sabedoria e acima de tudo mantendo o respeito e carinho pelos estudantes.“
Ilídia (Ex-aluna)
“Tive a honra de conviver com tio Mozart na minha infância. Era um cara muito romântico, que mesmo com sua voz baixa transmitia muita alegria. Gostava de cantar, ouvir músicas e curtir a vida com os amigos. Também era muito prestativo e gostava de servir as pessoas. Foi um bom professor e na região de Desterro todos gostavam muito dele. O tempo passou e ele não mudou, continuou sendo o mesmo. Um cidadão muito nobre.”
Antônio Almeida (Sobrinho)
Galeria de Fotos
Responsável pelo conteúdo da página:
Juliana Almeida Nogueira Pereira Soares
Produção Geral:
MONT’SAINT
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