Memorial
Jordão Manoel da Rocha e Maria Josefa da Conceição
Memorial
Jordão Manoel da Rocha e Maria Josefa da Conceição
Jordão Manoel da Rocha
Jordão Manoel da Rocha nasceu no dia 27 de setembro de 1928, no sítio Baixio, em uma localidade conhecida como Os Quincas, zona rural da cidade de Tabira – PE (que nessa época ainda se chamava Espírito Santo e pertencia a Afogados da Ingazeira). Era filho de um casal de agricultores: Manoel Quinca da Rocha e Josepha Maria da Rocha. Tinha quatro irmãos – João (João Quinca), Fernando, Inácio (Inácio Quinca) e José (Zé Quinca) – e seis irmãs – Maria do Carmo (Carminha), Teonília (Teone), Antônia (Tonha), Francisca, Maria Josefa (Maria de Pedro Luiz) e Maria de Lourdes (Lourdes de Jaime).
Trabalhou por muitos anos na roça, com sua família, na agricultura familiar. Sempre foi o mais calmo dentre os irmãos; não agia por impulso e vivia com simplicidade até as dificuldades da vida. Era um homem de virtudes. Mantinha sempre o seu ar sério, mas sem querer causar desconforto a ninguém. Jordão parecia saber que, na vida, tudo passa.
Seu esporte preferido era o futebol. Jogava no Botafogo de Brejinho de Tabira, na posição de lateral. Apreciava um carteado, por diversão, e gostava muito de forró; não perdia uma oportunidade de dançar nos forrós pé de serra da região.
Maria Josefa da Conceição
Maria Josefa da Conceição, mais conhecida como Maria de Leriano (apelido que ganhou devido ao seu pai), nasceu no dia 14 de novembro de 1934, em Canhotinho – PE, filha de um casal de agricultores: Aureliano Francisco Silva (Leriano) e Josefa Nogueira da Silva. Chegou a Brejinho de Tabira – PE com seus pais e seu irmão Heleno, onde fincou suas raízes familiares. Maria era a filha mais velha, tendo sete irmãos: Heleno (Heleno Preto), Antônio, Francisco, Floresmina (Fulô), José Aureliano (Zé de Leriano), Alta e Isabel.
Cresceu na roça, na agricultura familiar, que era fonte de renda da sua família. Mesmo diante de toda dificuldade pela qual a família passava, Josefa, sua mãe, não media esforços para ver suas filhas alfabetizadas. Por outro lado, os homens tinham de permanecer desenvolvendo sua função de agricultor. D. Luizinha, como era conhecida a professora da comunidade, alfabetizou Maria, Alta e Isabel. Por ser a mais velha dentre as mulheres, Maria não conseguiu terminar o ensino fundamental, pois precisava se deslocar até a cidade de Tabira, o que na época era inviável devido aos afazeres domésticos e às condições financeiras.
Nas horas de descanso, à luz do candeeiro, Maria costumava ouvir as histórias que seus pais e avós contavam. Longe dos ares do restante do mundo, alguns ensinamentos eram transmitidos dos mais velhos para os mais novos. O breu da noite parecia estar atento aos ensinamentos e segredos contados. O céu escuro se tornava um enorme caderno, no qual eram ensinadas as posições das estrelas, as fases lunares e como cada alteração das constelações e da lua influenciava as chuvas, as lavouras e as colheitas.
Durante as poucas horas em que a vida permitia a vivência da infância, Maria brincava de casinha com suas amigas e suas irmãs, à sombra de uma árvore chamada Pé de Pereiro; assistia aos jogos de futebol nos campos, do Bandeirante e do Botafogo, em Brejinho, e às corridas de vaquejada no corredor do Senhor Pedoca. E praticava o bordado. Costumava dançar ao som do violão que seu irmão José tocava. Seu pai era bacamarteiro e ensinou Maria a atirar; ela usava o bacamarte para assustar as mulheres que passavam perto de sua casa, na volta da feira. Sua época favorita era o mês de maio, mais conhecido como mês mariano, quando eram celebradas as trinta e uma noites, cada uma com um noiteiro diferente.
Família
O Início
A vida em comunidade permitia alegrias que só a alma é capaz de capturar e de viver. As noites do mês de maio, em Brejinho, eram aguardadas o ano inteiro e guardadas para o resto da vida. Parecia que toda felicidade era acumulada para ser liberada no mês mariano. Em todas as noites, na capela de Nossa Senhora do Perpétuo Socorro, cada noiteiro vivia fervorosamente o encontro da fé. Eram 31 noites de festa, com quermesse, bingo e até forró. Foi em uma delas que Jordão se aproximou de Maria e começaram a viver sua história.
O Casamento
Após alguns anos de namoro, Jordão e Maria se casaram no dia 15 de outubro de 1958, na matriz de Tuparetama-PE. Ele com 30 anos e ela com 24. Após a união, foram morar no sítio Baixio “nos Quincas” que ficava nas proximidades da comunidade de Brejinho.
Os Filhos
Ainda no sítio Baixio, tiveram um filho que se chamava Milton e que veio a falecer com poucos meses de vida, por problemas de saúde. Izabel, a irmã mais nova de Maria, ainda passou um tempo morando com eles. Depois, o casal teve mais duas filhas: Maria do Carmo (Ducarmo) e Maria Dulcineide (Neide). Anos após, mudaram para Brejinho (povoado de Tabira-PE), de onde não saíram mais.
Com o passar dos dias, Maria passou a ser chamada de Maria de Jordão, e tiveram mais uma filha: Maria Dulcileide (Chum), e também criaram um menino, que era chamado de Tedinho.
A Convivência
Jordão e Maria formavam o verdadeiro exemplo de que os opostos se atraem: ele era manso e doce; ela, agitada e brava. Mesmo com seu temperamento forte, Maria dizia não ter ciúmes de Jordão; afinal, ninguém é de ninguém, como costumava dizer.
O casal era muito cativante para com os amigos e parentes. No tradicional mês mariano, montavam um botequim, para que, assim, pudessem ter uma renda extra. A casa estava sempre cheia, nesse período, e conseguiam vender tudo. Outra festa muito importante, na comunidade, era a Festa da Padroeira, celebrada no mês de outubro; mais uma vez, o casal montava o botequim. A Sexta-Feira da Paixão também era marcada pelo tradicional jantar que o casal servia aos familiares e amigos, e não podia faltar o famoso bolo de milho que Maria preparava.
Passadas as festividades mais importantes, o trabalho na roça voltava a ser a principal atividade da família. Como o ganho era pouco, nesse período, Jordão se deslocava para a cidade, à procura de trabalhos extras. Começou a trabalhar embalando carnes, ovos e galinhas na feira de Tabira, às terças e quartas-feiras. Depois, passou a trabalhar também no engenho do seu cunhado (Antônio Pacífico), em Barreiros, Tabira, e levava Ducarmo, “Duca”, como ele carinhosamente a chamava, para ajudar no trabalho. Era um homem caprichoso, que não escolhia serviços. Fazia cercas, batia barro para fazer tijolos, brocava, fazia carvão, dentre tantas outras atividades que surgiam no seu dia a dia.
Jordão era muito amoroso para com as filhas. Quando seu genro (Jorge) viajava para trabalhar, era Jordão que fazia companhia a Ducarmo. Um homem prestativo, não apenas à sua família, mas a quem precisasse e aceitasse sua ajuda.
A Despedida de Jordão
A vida, esse misterioso relógio com horas diferentes para cada um de nós, marcou não somente a vida de Jordão, mas a de todas as pessoas que o cercavam, principalmente de sua família. Jordão faleceu em 7 de dezembro de 1987, aos 59 anos. Deixou três filhas (Ducarmo, Neide e Chum) e três netos (Jorgeanderson – Anderson – e Juliana, filhos de Ducarmo, e Diorgenes, filho de Neide).
A Vida sem Jordão
Após a morte de Jordão, Maria passou a viver na companhia de Chum e Leriano, seu pai, que era viúvo e morava com eles. A ausência do provedor da família fez com que Maria assumisse as rédeas da casa, e as dificuldades financeiras se tornaram cada vez mais fortes e frequentes, mas foram superadas com a ajuda da pensão.
A Terceira Idade de Maria
Maria era muito apegada as suas plantas, gostava de rosas, amélias e papoulas, dedicando boa parte do tempo a cuidar do seu jardim. Era muito comum ouvi-la entoando Índia, canção de Manuel Ortiz Guerrero, José Fortuna e José Asunción Flor, no seu dia a dia.
Apesar de ser uma pessoa muito caseira, fez algumas viagens para visitar familiares; e estava sempre presente aos eventos da igreja, participando ativamente do grupo das mulheres do Apostolado do Coração de Jesus e Mãe Rainha. Saía para as demais comunidades, com Maria de Lourdes (Maria do Correio), para arrecadar dinheiro para a reforma da capela de Nossa Senhora do Perpétuo Socorro. Era uma mulher que estava sempre disposta a servir à comunidade e aos mais necessitados. Com o passar dos anos, sua saúde limitou muitas das suas atividades, por isso passou a assistir à missa e às campanhas de orações do Divino Pai Eterno pela televisão. Caminhava dentro da própria casa, e se sentia muito querida por cada visita que recebia.
Por ser uma mulher muito cativante e atenciosa para com as suas amizades, sua casa sempre era visitada. Durante a tarde, era comum receber suas amigas para tomar chá e conversar. À noite, quando se sentava na cadeira em sua calçada, não demorava muito, e logo as pessoas chegavam para conversar e ouvir histórias. Ninguém saía de sua casa sem tomar pelo menos um copo de água, mas o que não podia faltar mesmo era o doce de leite ou de mamão, que fazia questão de servir às suas visitas.
Descendentes
Ao longo dos seus 84 anos, Maria se tornou, além de mãe, avó e bisavó. Deixou seis netos: Jorgeanderson (Anderson) e Juliana, filhos de Ducarmo; Diorgenes e Danilo, filhos de Neide; Dayane e Henrique, filhos de Chum. E quatro bisnetos: Jean Jr., Lavínia e Kaio, filhos de Juliana; e Guilherme, filho de Anderson.
Despedida
Maria era uma pessoa muito amada por seus parentes e amigos. Era um jardim em vida que, assim como cultivava suas plantas, gostava de cuidar dos seus. Uma roseira bem cultivada nunca fica sem a visita de um beija-flor. Assim eram a casa e a vida de Maria, que partiu no dia 5 de julho de 2019, aos 84 anos, deixando muitas saudades no coração de todos que a amavam. Seu corpo foi sepultado no cemitério de Brejinho (povoado de Tabira).
Depoimentos
Jordão e Maria deixaram muitas saudades entre os que com eles conviveram. Confira abaixo os depoimentos dos familiares e amigos.
“Jordão era uma pessoa muito boa, ao qual eu queria muito bem. Um homem direito, honesto, trabalhador. Fazia tudo para cuidar da família dele. Sempre me chamava pra arrancar a primeira batata da vazante, pra mim e pra Ducarmo. Passou muito tempo comigo quando eu tinha o bar. Um amor de pessoa.”
Jorge Almeida (Genro)
“Foi o tio mais presente lá em casa, toda noite ia tomar um café, até mesmo na chuva. Uma pessoa muito boa, com seu jeito calmo e tranquilo. Muito carinhoso com todos nós, uma pessoa maravilhosa.”
Maria de Fátima “Fatinha” (Sobrinha de Jordão)
“Tio Jordão, pra mim, era um tio muito querido. A gente vivia com ele sempre. Ele me viu tirando a barba do meu pai e disse: “Agora você vai tirar a minha também”, e eu tirei, enquanto o tive por aqui, para ele não ficar “velho”, como ele dizia. Pra mim, foi um tio maravilhoso, todo dia a gente se via, gostava demais dele.”
Maria Aparecida “Aparecida de Pedro Luiz” (Sobrinha de Jordão)
“Tio Jordão era uma pessoa calma, que gostava de jogar bola e assoviar. Um tio carinhoso que frequentava minha casa. Quando ele não vinha, a gente ia lá na dele. Infelizmente morreu novo, e sei que não deixou nenhuma intriga.”
Luiz Pereira “Lula de Pedro Luiz” (Sobrinho de Jordão)
“Eu gostava muito dela. Era uma pessoa muito boa, caridosa. Me fez muito. Quando eu adoecia, ela e Ídia eram as primeiras que chegavam para ajudar. Me fez muita falta.”
Dolores (amiga e vizinha)
“Agradeço muito a Maria de Jordão. Ela ficou quase um ano cuidando de Dé, quando eu precisei viajar. Quando eu precisava de dinheiro, qualquer coisa que eu precisava, ela chegava pra ajudar. Trabalhei muito com ela nas roças, trabalhando de “alugado”. Era uma amizade grande que a gente tinha. Pra onde ela ia, eu ia junto. Era muito caridosa, me ajeitava muito. Todos os dias, meu filho Dé ia lá; às vezes ela estava dormindo, mas ele dizia: “Eu vou só olhar pra ela e volto”. Senti muito a falta dela, ainda hoje sinto. Ando muito pouco lá, que, quando entro, só lembro dela.”
Maria de Lourdes “Lurdinha de Éder” (amiga e vizinha)
“Maria era a segunda mãe da gente. Quando tinha qualquer problema em casa, era pra lá que a gente ia. Ela sempre acolheu. Uma vizinha muito boa, nunca comia só, sempre compartilhava com a gente. Toda noite a gente conversava na calçada, e agora só ficou a saudade. Na Semana Santa, ela sempre fazia a janta, na Sexta-Feira da Paixão. Chamava a gente, Lurdinha, André… Depois da refeição, fazia a oração, todo mundo se abraçava e ela chorava”.
Flávia Cristóvão “Ninha de Neves” (amiga e vizinha)
“Conheci Maria de Jordão quando me casei, em 80. Vim morar aqui em Brejinho. A gente se conheceu e viramos amigas. Ela fez parte da minha vida e da minha história. Era uma grande vizinha, grande amiga. Amiga de verdade, amiga na doença, nos debates que a gente fazia, e falar dela é tudo. A morte dela foi uma surpresa. Brejinho, a Rua Joaquim Nabuco perdeu uma pessoa do coração bom. Foi uma grande esposa, grande mãe, amiga, vó. Deixou muitas saudades.”
Neide Marques “Neide de Anchieta” (amiga e vizinha)
“A relação entre mãe e madrinha começou desde a infância. Eram primas, foram criadas juntas. Maria se tornou madrinha de mãe e se tornou madrinha de todos nós. Mesmo depois de casada, e quando mãe foi embora pra Bahia, elas continuaram amigas, e madrinha fazia de tudo pra ir visitar mãe. A gente ficava maravilhados com o amor que ela tinha. Madrinha foi um anjo na terra. Era hospitaleira, receptiva. A gente se sentia no hotel da madrinha. Conviver com ela foi tudo de bom. Quem conheceu, sabe. Só tenho que agradecer ter conhecido uma pessoa tão especial que nos acolhia a qualquer hora e em qualquer momento, com tudo de bom. Não era só pela hospedagem; era pelo carinho, pelas conversas… A gente conversava de tudo. Era uma relação de mãe e filha. Ela é um mito pra gente. Nunca morreu, nunca vai morrer. Sua morte nos deixou muito tristes, só espero que Deus coloque mais gente na terra com o coração tão bom quanto o dela. Dias antes de ela falecer, fui visitar madrinha, e ela chorava muito quando eu saí de lá. Fiquei muito triste, pois aquele momento foi nossa despedida, parecia que ela estava sentindo. Madrinha fez uma passagem muito linda aqui na terra. Que Deus a coloque em um bom lugar.”
“Nêga de Helena” (amiga e afilhada)
“Maria de Jordão… Ah, que saudade tenho dela! Uma das mulheres mais fortes que já conheci. Era dona de uma força interior inesgotável e de muita coragem. Carregava consigo uma personalidade ímpar, calcada de generosidade, amizade, independência, sinceridade e amor ao próximo. Em sua casa, nunca faltava uma comida quentinha, um docinho de mamão e um convite para dormir no aconchego. De lá não se saía com a barriga vazia, e recusar um convite era um desrespeito. Eu, juntamente com minha família, frequentei sua casa desde criança, e foi assim, até o dia de sua partida. Na correria da vida, dividida entre o trabalho e os estudos, se não dava tempo de eu ir para minha casa, era para a casa dela que eu ia. E todas as vezes, sempre, fui recebida com alegria, uma comida quentinha e uma cama macia. Que honra, a minha! Ela acompanhou praticamente todas as fases da minha vida e tornou leve o meu caminho. Sempre preocupada e cuidadosa, um conselho nunca lhe faltava. Com minha filha, Helena, era igual, lembro perfeitamente de suas palavras: ‘Cuida dela como se estivesse cuidando de um ovo, ela é delicada”. Ah, Maria de Jordão, que saudades! Que Deus preserve em mim as melhores memórias suas, que são muitas. Gratidão, Maria, por tudo que és e foste pra mim. Que Deus a tenha na sua glória.”
Diana Carla (amiga)
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Responsável pelo conteúdo da página:
Maria do Carmo Nogueira Almeida
Produção Geral:
MONT’SAINT
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