Memorial
Claudemira Saraiva Pequeno
Memorial
Claudemira Saraiva Pequeno
Uma História de Determinação e Garra
Origem
Claudemira Saraiva Pequeno – Mira, como era conhecida – nasceu em 7 de fevereiro de 1918, no sítio Várzea Nova, zona rural do município de Serra Branca, na Paraíba.
Era filha única de Maria Amélia, mais conhecida como Maroca, e do Coronel Sinhô Calixto, que, além de Mira, teve outros seis filhos. Destes, apenas dois eram frutos do seu matrimônio, enquanto os outros cinco tinham, todos, mães diferentes.
Sem a presença direta do pai, Mira foi criada por sua mãe, Maroca, no sítio Várzea Nova, onde teve uma infância bastante simples e típica daquela época.
Em São João do Cariri – PB, uma cidade vizinha ao município onde morava, aprendeu a ler, escrever e contar. Lá, ficava na casa de uma de suas meias-irmãs, de segunda a sexta-feira, e voltava para a sua casa nos finais de semana, durante o período em que frequentou a escola.
Naquela época – meados da década de 1920 – encontrar uma escola convencional, principalmente para as mulheres, não era tão simples. Por isso, seu pai contratou uma professora particular para lhe dar aulas em casa. Mesmo tendo acesso apenas ao básico, sua caligrafia era bonita, sua leitura era fluente e sua habilidade de fazer cálculos era impressionante.
Ainda muito jovem, perdeu o seu pai e teve de interromper os estudos, passando a viver novamente, em tempo integral, no sítio Várzea Nova, na companhia da sua mãe.
Família
O Início
Aos 20 anos, por volta de 1938, Mira conheceu Simão Saraiva de Farias, que havia chegado a Serra Branca ainda muito jovem, aos 14 anos, em 1912, para trabalhar na construção da igreja matriz da cidade, e ali decidiu fincar suas raízes.
Naquela época, era comum, na região onde viviam, que os rapazes “raptassem” as moças da casa dos pais e, depois, retornassem para se casarem. Com Simão e Mira não foi diferente; fugiram e, após o retorno, dias depois, casaram-se, em 19 de fevereiro de 1939, na Igreja de Nossa Senhora da Conceição, igreja matriz de Serra Branca, a mesma em cuja construção Simão havia trabalhado. Além do casamento religioso, casaram-se também no Cartório de Registro Civil de Serra Branca. Em seguida, instalaram-se no sítio Várzea Nova, onde Mira já vivia, e deram início à construção da família.
A Chegada dos Filhos
Ainda no primeiro ano de casamento, em 12 de dezembro de 1939, o casal foi abençoado com a chegada do primeiro filho, Antônio. Passados quase dois anos, em 13 de julho de 1941, nasceu o segundo filho, José, mais conhecido por Nenzinho. Dois anos depois, em 9 de julho de 1945, nasceu o terceiro, Francisco das Chagas, mais conhecido por Vivi. Em 5 de março de 1947, nasceu a primeira menina, Maria da Conceição, mais conhecida por Saraiva; após um intervalo de dois anos e dois meses, em 5 de maio de 1949, nasceu, Maria Aparecida. Pouco mais de um ano depois, em 15 de junho de 1950, nasceu mais um menino, Severino dos Ramos. Em 28 de dezembro de 1953, nasceu Maria do Socorro. A oitava filha do casal, Maria da Guia, nasceu em 20 de março de 1956. Em seguida, foi a vez de Maria das Dores, mais conhecida por Dora, que nasceu em 5 de novembro de 1958. E, por último, mas não menos importante do que os outros, nasceu Maria das Neves, em 20 de abril de 1960.
Os Cuidados
Muito zelosa, Mira educou os filhos com firmeza. Seu esposo, Simão, era pedreiro e trabalhava da segunda a sexta-feira nas obras da região, deixando os cuidados com os filhos sob a responsabilidade da mãe. Ela sabia separar as emoções, e mesmo em meio a todo o carinho que dispunha para todos, também sabia ser dura quando fosse necessário.
Em meados do século XX, a vida não era fácil para a maioria dos sertanejos, mas Simão e Mira tinham o maior cuidado para que não faltasse o básico para os seus filhos. Em sua casa, havia vacas-leiteiras. Com isso, o leite dos mais novos estava sempre garantido. Além do gado que criavam, tinham também galinhas e outros pequenos animais para ajudar na sobrevivência, e Mira se desdobrava para dar conta das tarefas da casa e da criação.
Os cuidados de Mira para com a família eram impressionantes. Mantinha sua casa limpa, os entornos sempre organizados e, nas refeições, servia primeiro ao esposo e aos filhos para depois se servir.
A Perda do Esposo
Seu esposo, Simão, sempre teve uma vida dura, e frequentemente trabalhava até tarde. Com o passar dos anos, surgiram alguns problemas de saúde que o impediram de trabalhar. Em meados da década de 1960 ficou paraplégico e, nos últimos anos de vida, ficou cego. Faleceu em 28 de setembro de 1979.
Desde que Simão ficou impossibilitado de trabalhar, a labuta diária de Mira, que já não era fácil, ficou ainda mais intensa, mas ela, com muita garra, conseguiu dar conta da sua missão.
A Mudança
Mesmo morando na zona rural, o casal construiu uma casa, na cidade, que servia de ponto de apoio, tanto para as filhas, que estudavam, como para as pessoas do sítio que necessitavam de abrigo. Até que em 1982, três anos após a partida de Simão, Mira decidiu se mudar para a zona urbana de Serra Branca, onde permaneceu até o último dia em que esteve entre nós.
Os Netos
Além dos seus dez filhos, Mira conheceu, em vida, vinte e sete netos: Evandro César e Everaldo, filhos de Antônio; José Dagval, Maria Zoraia e Maria Zenólia, filhos de Nenzinho; Émerson Franklin e Felipe, filhos de Vivi; Otaciano, José Aurino, Fabiano, Flaviano, Cristiano, Luciano e Sebastiana Maely, filhos de Saraiva; Jerry Adriani, Jean Múcio, José Carlos e Jaíra, filhos de Maria Aparecida; Núbia Cristina e Carlos Magno, filhos de Maria do Socorro; Marjoriê, Rudrann, Ana e Graziele, filhos de Maria da Guia; e, Fabíula Simone, Fagner Silvano e Flebson, filhos de Maria das Neves.
Os Bisnetos
Foi privilegiada, tendo a honra de conhecer trinta Bisnetos: Fernanda Estevam, filha de Evandro César; Luan e Clara, filhos de José Dagval; Auana, Ian e José Neto, filhos de Maria Zoraia; Taciana, filha de Otaciano; Angela, Bruna e Rodolfo, filhos de José Aurino; Sâmara Kiara, Pedro Fabian, Severino Neto e Fabiano Filho, filhos de Fabiano; Flávia Cristina, Fábio e Felipe, filhos de Flaviano; Cristiano Júnior, Péricles e Karen Luana, filhos de Cristiano; José Mário, filho de Sebastiana Maely; Danilo e Daniel, filhos de Jerry Adriani; Vitor Casemiro, filho de Jaíra; Thais e Isadora, filhas de Núbia Cristina; Tayná, filha de Marjoriê; Ana Luíza e Ana Isabela, filhas de Fabíula Simone; e Hillan, filho de Fagner Silvano.
Mira viveu intensamente, principalmente no tocante à sua família. Foram anos de trabalho, dedicação e cuidados.
A Parteira
Mira era parteira. Certa vez, chamada para assistir um parto, teve de atravessar um rio com forte correnteza, mesmo sem saber nadar, para cumprir sua missão. “Agarrada a uma tora de mulungu com uma das mãos, já que a outra segurava os aparatos que usaria para fazer o parto (bacia, tesoura, agulha, linha, mercúrio e outras coisas mais), um homem nadava e arrastava a tora em que ela se segurava, até o outro lado do rio. Eu, que era bem pequena, fiquei com essa cena na mente. Lembro até hoje, cada detalhe”, conta a sua filha, Saraiva, que presenciou tal acontecimento.
O fato de não haver outras parteiras ou maternidade onde moravam, a assistência aos partos era uma generosidade de sua parte, já que não cobrava pelo serviço prestado.
Mesmo após a construção da maternidade em Serra Branca-PB, onde os partos passaram a ser realizados, Mira continuou a dar apoio às pessoas que precisavam, pois, no lugar em que morava, a locomoção ainda era um problema devido à falta de transportes. Mira, com a sua generosidade, colocava as mulheres em cima de um carro de boi e as conduzia até a maternidade, dando-lhes todo o suporte necessário.
Apesar das dificuldades enfrentadas naquela época, não há relatos de que nenhuma mãe ou criança tenha morrido em suas mãos.
A Costureira
Mira aprendeu a costurar ainda muito cedo. Especializou-se em roupas masculinas, o que fazia muito bem. Não costurava profissionalmente. O objetivo sempre foi fazer as vestimentas do esposo e dos filhos.
Passou os seus conhecimentos de costureira para todas as suas filhas, e três delas, Maria da Conceição (Saraiva), Maria do Socorro e Maria das Neves, tornaram-se costureiras profissionais.
Preferências
Culinária
Seus pratos preferidos eram galinha de capoeira, buchada de bode, chá de cidreira com cream cracker e queijo prato.
Suas frutas favoritas eram: mamão, ameixa e tamarindo.
Mira não se embriagava. Quando comia buchada de bode, tomava uma única dose de cachaça, assim como, vez ou outra, tomava uma taça de vinho.
Vestimentas
Suas roupas eram sempre floridas ou estampadas, em tons medianos, e tinha preferência por vestidos.
Personalidade
Dona Mira, como era chamada, era uma mulher de personalidade forte. Ela sempre tomava a frente nas decisões sobre a família e, após dar a sua opinião, não mudava mais. Mas isso não a impediu de manter uma boa relação com as pessoas que a cercavam, tornando-se admirada e respeitada por todos.
Não media esforços para fazer caridades; sempre que sabia de alguém que precisasse de algo, ajudava como podia. Assim como nunca cobrou pelos partos que realizou. Tudo era feito generosamente, independentemente das condições financeiras de quem a procurasse.
Religiosidade
Católica, Mira tinha apego a vários santos, mas as santas de sua devoção eram Nossa Senhora dos Milagres e Nossa Senhora da Conceição. Todos os dias, por volta do meio-dia, rezava o ofício, uma oração composta para ser cantada ou recitada (de uma só vez ou seguindo a Liturgia das Horas), a fim de proclamar os louvores da Mãe de Deus e defender a fé da Igreja na Imaculada Conceição da Virgem Maria. Também rezava o terço muitas vezes ao dia.
Estava sempre presente nas missas dominicais, que aconteciam na Igreja de Nossa Senhora da Conceição (igreja matriz de Serra Branca), às 7h da manhã. Também fazia questão de ir, todas as primeiras sextas-feiras de cada mês, à Missa do Coração de Jesus, que também era celebrada na igreja matriz da cidade.
Vida Social
Desde muito cedo, mesmo morando no sítio Várzea Nova, ela costumava participar das festividades mais importantes da cidade de Serra Branca.
Após a sua mudança para a zona urbana, passou a participar ainda mais das atividades sociais em Serra Branca, principalmente das festividades da igreja.
Dona Mira vivia em prol da família e tinha uma vida simples. Sua casa, na cidade, servia de ponto de apoio aos conhecidos que chegavam e não tinham onde ficar, deixando a casa sempre cheia.
Despedida
Com o passar do tempo, os desgastes físicos se tornaram inevitáveis e a deixaram impossibilitada de exercer a sua rotina cotidiana, porém, dona Mira nunca perdeu a consciência. Lúcida, conversava com todos e vivia tranquilamente, apesar do corpo fragilizado.
Por fim, não andava mais, passando os dias em sua cama, sendo cuidada pelos familiares com quem convivia. E, na certeza de dever cumprido, dona Mira nos deixou numa tarde de domingo, no dia 26 de abril de 2009, aos 91 anos.
Sua partida foi inevitável, mas os ensinamentos e os momentos vividos ficaram guardados na memória de quem teve a honra de conviver com ela.
Eterna dona Mira!
Depoimentos
Galeria de Fotos
Responsável pelo conteúdo da página:
Thais Saraiva da Silva
Produção Geral:
MONT’SAINT
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